No final de 2012, enquanto me descabelava com a reta final do meu TCC da pós-graduação em Design Estratégico no IED (just…don't! ok?), tive o prazer de conhecer a Camila, o Henrique, o Rodrigo e, posteriormente, uma galera bem grande que estava começando a falar sobre sonhos para a Vila Pompeia, Plano de Bairro, cultura e mais um monte de coisas que me interessavam como pós-graduando (já que meu tema era justamente o potencial criativo da Vila Pompeia), como morador do bairro e como ser humano. Era o início d'A Pompeia que se quer.
Nesses últimos meses tenho tido a chance de me envolver mais com esse projeto, conhecer pessoas incríveis e colaborar numa causa cujo valor, para mim, é inquestionável. Depois de oficinas diversas, ontem (02/04) tivemos na Subprefeitura da Lapa uma assembléia para debatemos as propostas já feitas na plataforma on-line e pensarmos em formas de deixá-las mais "redondas" para a fase de "aplausos". Quando cheguei na Sub, o Henrique me pediu para ser o anfitrião das questões relacionadas a Cultura…e é daí que vem a reflexão que gostaria de registrar e compartilhar aqui.
Foi uma noite ótima na companhia de pessoas cuja disposição e interesse pelo bem do bairro me servem de incentivo. E foi por estar mais a vontade, que pude me questionar e questionar meus companheiros de debate: Cultura para quem?
Ainda é uma "desvantagem" termos nesse movimento pessoas com um perfil tão parecido, pelo menos no que diz respeito ao poder aquisitivo, oportunidades no mercado de trabalho, etc. Ou seja, a boa e velha classe média paulistana, da qual eu também faço parte. O que então, nós, cidadãos de classe média, honestamente interessados no bem do bairro e seus moradores, queremos dizer quando propomos atividades e manifestações culturais? Como, de fato, é o bairro que queremos?
Me pergunto isso porque não consigo desvincular meu interesse social do meu aprendizado bíblico: Amai a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Não posso esquecer que a Vila Pompeia, apesar de ter uma realidade bem diferente - e de certo ponto de vista, "melhor" - do que outros bairros, não é um paraíso onde todos vivem muito bem, obrigado. Os grandes e luxuoso prédios de alto padrão - e mesmo as lindas casinhas mais antigas - fazem a gente as vezes esquecer, mas ainda existem no bairro bolsões de pobreza, meninos e meninas que estão entrando na vida adulta sem uma perspectiva de vida, famílias que lutam para sobreviver com o que tem. Pessoas que, quando a chuva vem cá'gota, não estão preocupadas se o carro vai estragar, se o trânsito vai apertar…mas sim com os poucos móveis de casa. O que queremos para essas pessoas?
"Vai indo pra lá um pouquinho, vai…mais um pouco, mais um pouco. Isso, agora fica fora do meu bairro lindo, arborizado e feliz. Só não vai me dormir na praça, hein, por favor. Senão, não rola fazer piquenique."
Queremos ocupar espaços públicos para que sejam equipamentos sociais de integração popular, ou para que não sejam ocupados por moradores de rua? Quando ocuparmos essas pracinhas e becos, para onde vai a galera que dorme lá? Óbvio que não estou falando que esses espaços não devem ser ocupados. Minha questão é: estamos olhando para as pessoas que a maioria não olha? Não vai ser mais legal ainda se todo nosso interesse pelo bairro incluir também um sonho onde TODOS tenham direito a dignidade? "Ah, mas são muito poucos os casos…" - Ótimo, melhor ainda, menos trabalhoso seria. "Ah, mas isso é função da prefeitura. Eles que se recolham em albergues" - Oh, really? ¬¬
Graça a Deus, tenho sorte de vir de uma família estruturada, que apesar dos muitos apertos (e não foram poucos mesmo), sempre primou pela minha educação, sempre me orientou e apoiou nas decisões que tomei. Mas estar nessa posição confortável não pode me impedir de perguntar: Cultura para quem?
Eu não sonho com um bairro lindo, cheio de pracinhas, centros culturais, eventos de arte, cultura, lazer, educação, etc…mas que não se preocupa com as pessoas. Me oponho a ideia de um bairro atrativo, bem cuidado, funcionando que é uma beleza, se essa ideia não incluir também - e principalmente - as pessoas que mais precisam. Acredito piamente que toda e qualquer intervenção cultural feita nesse contexto deve ter a função primordial de criar ambientes de interação e integração social. Talvez eu não possa fazer muita coisa por toda a questão financeira e familiar de alguém, mas eu posso me esforçar para que de alguma forma, ele também faça parte do sonho de um bairro melhor…e sinta-se assim, fazendo parte.
A cultura é de todos, é para todos (e o bairro também, aliás). Ela tem o poder de oferecer uma outra perspectiva de vida para alguém, de transformar uma história. Que seja ela nossa forma de expressão, uma forma de compartilharmos talentos, ideias, de aproveitarmos o bairro tão legal que temos. Mas que seja, também, nossa maior aliada na construção de um bairro que possa ser chamado, de fato, comunidade. Tanto no alto dos prédios, quanto nas baixadas e vielas - que as vezes preferimos fazer de conta que não fazem parte do nosso lindo bairro e pronto.
As questões todas que vem sendo debatidas são válidas, legitimas e precisam ser debatidas. Mas fiquei feliz de ver que naquela pequena rodinha de pessoas falando sobre cultura, não estou sozinho nessa. Com certeza, há ainda pessoas sedentas por compartilhar esse viés. Então, como diria o atendimento de uma agência qualquer: vamos falar?
Isso pode soar como demagogia para alguns. Que seja. Mas se eu não começar a pensar assim olhando para o meu bairro, como vou poder sonhar uma cidade e um país que sejam, de verdade, para todos?